quarta-feira, 1 de março de 2017

Sobre Avaliação e Autonomia dos Estudantes

Sempre achei que organizar e conduzir o processo de avaliação é o maior desafio do professor universitário. E quando o assunto é avaliar, confesso que já tentei de tudo: autoavaliação, prova em dupla, prova com consulta ampla, mapa conceitual. Na maioria das vezes, no entanto, o resultado não me empolgou. No próximo semestre, convencido da importância de incentivar a autonomia dos alunos, e na esperança de encontrar um modelo mais interessante, pretendo dividir o processo de avaliação em quatro etapas, do modo como passo a descrever. Críticas e sugestões de aprimoramento serão muito bem-vindas.

Primeira etapa (Plano de estudo)

Com a máxima liberdade, cada aluno deve elaborar plano individual de estudos, indicando, entre outras coisas, e conforme desejar, textos que pretende ler, atividades que pretende realizar para vislumbrar a aplicabilidade da matéria, atividades que pretende realizar para apreender os elementos básicos da matéria e atividades que pretende realizar para garantir um ambiente de diálogo e colaboração.

Segunda etapa (Relatório parcial)

Cada aluno deve elaborar relatório individual, em conformidade com o plano apresentado, indicando de que modo e em que medida as atividades planejadas já foram feitas.

Terceira etapa (Relatório final)

Cada aluno deve elaborar relatório individual, indicando de que modo e em que medida, a partir do primeiro relatório, as atividades planejadas foram feitas.

Quarta etapa (Trabalho coletivo)

A turma deve planejar e coordenar a realização de quatro aulas, cuidando de inserir, sempre com referência à matéria estudada: música, literatura, teatro, video e debate de tema polêmico. A nota será atribuída à turma, coletivamente, de acordo com os seguintes critérios: a) grau de envolvimento dos alunos matriculados; b) realização das atividades sugeridas; c) organização; d) criatividade; e) rigor na utilização dos conteúdos jurídicos; f) abrangência em relação aos temas estudados.

Discurso de Formatura*

Raphael Cristian Lacerda dos Santos

Exm. Sr. Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Prof. Fernando Gonzaga Jayme;

Querido Patrono;

Querido Paraninfo;

Queridos Professores;

Querido Funcionário Homenageado; 

Demais autoridades presentes; 

Amados Pais;

Senhoras e Senhores;

Caros colegas;

Ingressamos na Faculdade de Direito em seu centésimo vigésimo ano de fundação (2012) com a responsabilidade de simbolizar em um novo tempo o maior patrimônio, orgulho e motivo de grandeza da centenária instituição: os alunos.

Hoje, no dia em que nos tornamos bacharéis em Direito, recordo os versos do poema Cantares que expressam a nossa trajetória: ''caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar''. Sabemos bem disso, pois caminhamos muito nos cinco anos de graduação, resumimos a Odisseia (lembram do nosso primeiro período?), ficamos intrigados com os embates entre o direito natural e o direito positivo na obra ‘’o caso dos exploradores de caverna’’, viramos noites estudando nas vésperas das provas, ficamos presos nos elevadores do Edifício Valle Ferreira, que por vezes nos deixavam assustados com suas variações de humor, subimos andares e mais andares de escadas diariamente, compartilhamos materiais, conhecimentos valiosos antes das provas, experiências, indignações, e até atores nos tornamos em uma peça de teatro de Processo Penal no quinto período.

Caminhamos pela grande arte da vida: o encontro, na sala de aula, nos corredores da Faculdade, nas calouradas, nos Jogos Jurídicos, na DAJ, na Atlética, CAAP, no Vetustão, Vetustete e principalmente nas famosas festas da piscina realizadas na acolhedora casa do nosso colega ‘’Boca’’. E em breve teremos como marca a saudade da convivência agradável pautada no respeito pela singularidade e na união por um ponto em comum: A Faculdade de Direito, como ficou demonstrado no nosso marcante convite de formatura.

Construímos amizades verdadeiras e inexplicáveis que serão para a vida toda, das quais levaremos as mais ternas lembranças de companheirismo e solidariedade, fundamentais para que este momento se concretizasse, pois ninguém se formaria sem a ajuda dos colegas.

Caminhantes, o caminho não se encerra aqui. Estamos conscientes dos múltiplos desafios e responsabilidades que nos aguardam fora do espaço seguro da Faculdade, principalmente em face da sociedade que financiou a nossa educação em uma universidade pública de excelente nível.

Temos plena consciência que vivemos uma época de profundas mudanças políticas e sociais em uma realidade cada vez mais complexa, tempos de limitações e de irracionalidade em vários espaços, onde muitas pessoas querem o mesmo, mas são incapazes de acertar o tom da fala.

Por isso, cabe relembrar que aprendemos nos anos de graduação a conviver com a diferença, em uma turma marcada por pessoas com as mais diversas opiniões, origens, características e objetivos de vida.

Que possamos, caros colegas, valorizar a educação que muitos deste país não podem receber, sem deixar de honrar o exemplo de cada um que se encontra aqui nos prestigiando ou esteve presente ao longo da nossa trajetória, pessoas que também almejam um país mais desperto para a transformação social.

Falando em capacidade de transformação, faço um breve parêntesis para destacar a força feminina das colegas que hoje se formam. Desde Myrtes Gomes de Campos e Maria Augusta Saraiva, as primeiras mulheres bacharéis em Direito do Brasil, foram muitos anos de luta pela emancipação feminina. Chegamos aqui, em uma turma onde a presença feminina é notável, mas ainda há muito que se caminhar e conquistar.

Por fim, permitam-me relembrar um trecho do discurso proferido no dia da inauguração da Faculdade Livre de Direito (10.12.1892) pelo primeiro diretor da instituição (Affonso Augusto Moreira Penna):
''(...) Com olhos fitos no futuro, tranquilos, mas vigilantes sempre, firmemos de modo inabalável os alicerces de nossa felicidade pela paz, pela concórdia, pela fraternidade.
A tarefa que tocou à nossa geração é árdua, sim, mas não superior às nossas forças. Tenhamos sempre diante dos olhos a divisa – Labor improbus omnia vincií (“O trabalho perseverante vence todos os obstáculos”) - e caminhemos!’’
Parabéns para todos nós, caminhemos juntos e muito obrigado!

* Discurso proferido por Raphael Cristian Lacerda dos Santos, orador da turma de formandos do 2º Semestre de 2016 do Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Direito da UFMG, em sessão de colação de grau, realizada em 17/02/2017.