sexta-feira, 30 de junho de 2017

Balanço de final de semestre: em defesa do método menos eficaz

Ao final do semestre, estamos todos cansados, professores e estudantes. Mesmo assim, considero importante avaliar o que deu certo e o que pode melhorar. 

Sempre peço aos meus alunos a indicação de pontos positivos, pontos negativos, sugestões e observações, e cuido de esclarecer que o formulário é de preenchimento opcional e pode ser devolvido sem identificação.

Acabei de ler os resultados e gostaria de compartilhar as impressões iniciais.

Antes, preciso dizer como planejei o sistema de avaliação. Basicamente, pedi a elaboração de um plano individual de estudos, de um relatório parcial do desenvolvimento dos trabalhos e de um relatório final. Deixei claro que a nota não dependia do conteúdo dos documentos, mas apenas da realização das atividades a tempo e modo. 

Meu principal desejo era tirar a avaliação do centro do processo de ensino e aprendizagem e deixar que ele se desenvolvesse de forma mais livre e autêntica. Pode parecer uma ideia óbvia, mais eu queria criar condições para que os alunos estudassem para aprender e não para fazer provas. Estou ciente de que foi uma opção radical. Mas creio que tinha de ser assim. Se tivesse incluído uma única prova, dessas utilizadas para medir conteúdo, a experiência ficaria comprometida.

No fundo, o que estava em jogo era autonomia dos estudantes. 

E o resultado, a meu ver, sugere a realização de três movimentos.

O primeiro é o elogio da liberdade. Em geral, os estudantes foram enfáticos na indicação de como se sentiram bem com a liberdade de conduzir o próprio aprendizado. As seguintes frases, extraídas dos formulários de avaliação, podem confirmar a ideia:

“A liberdade nos permitiu montar nosso próprio programa de estudos e a autonomia para efetivá-lo no nosso tempo e do nosso modo”.

“Tive liberdade para conduzir meu próprio aprendizado e, diferentemente de outras matérias, não senti que seria consumida pela pressão”.

“O método adotado foi muito bom, fugindo da maneira tradicional das aulas, e permitindo ao aluno ir em busca do que ele realmente quer, sem força-lo a nada”.

O segundo movimento é a crítica da liberdade. Os estudantes foram igualmente enfáticos na demonstração dos perigos que a liberdade proporciona, como se pode ver nas seguintes frases:

“Tive dificuldades de organizar meus estudos, pois não estou acostumado com essa liberdade”.

“A liberdade também é perigosa, pois corremos o risco de nos acostumar com a falta de prazos e restrições promovidas pelas provas”.

“Senti falta de avaliações tradicionais que têm a função de nos fazer estudar a matéria com mais dedicação”.

“Acho importante ter provas, pois, querendo ou não, a gente acaba estudando mais quando tem avaliação”.

“A falta de cobrança em termos de pontuação gera pouco estímulo para os estudos em casa, principalmente em comparação com outras matérias mais exigentes”.

“Falta de prova deixa o aluno vagabundo”.

O terceiro movimento é o impacto da liberdade. Nos dois anteriores, os sujeitos olham para a liberdade e agem sobre ela, para destacar sua beleza e riscos. Neste último, ao contrário, a liberdade age nos sujeitos.

A experiência da liberdade proporciona, inicialmente, sofrimento. O sujeito, sabendo que podia fazer qualquer coisa, sofre quando percebe que não fez tudo o que desejava. O fracasso, quando verdadeiramente percebido, produz dor, tristeza, arrependimento.

Mas a experiência não termina aí. A liberdade, ao proporcionar sofrimento, permite conhecer os próprios limites, refletir sobre eles, e sair em busca de superá-los. E cada conquista, quando livremente construída, tem valor certo e verdadeiro. As seguintes frases podem comprovar minhas impressões:

“Infelizmente, sempre fomos obrigados a estudar e esta matéria buscou quebrar isso. Entretanto, senti que não consegui acompanhar essa nova perspectiva”.

“Sinto que meu aproveitamento não foi muito bom por falta de comprometimento com meu próprio plano de estudos”.

“A metodologia mostra minhas deficiências como estudante, de modo que, agora, posso trabalhar para saná-las”.

“Eu tenho dificuldades de estudar de forma tão autônoma. Acho que é um problema meu mesmo. Mas estou melhorando”.

“O processo de elaborar o plano de estudos foi enriquecedor à medida que possibilitou autoconhecimento, um termômetro das minhas capacidades e limitações.

“Ao fugir da maneira tradicional das aulas, foi possível refletir sobre meus pontos fortes e pontos que devem ser melhorados”.

“Não ter provas me forçou a ser mais responsável quanto ao estudo e estudar por prazer e não por obrigação, ao contrário das demais matérias”.

Ao final, a análise dos dados me permitiu pensar sobre o modo como estamos construindo o nosso sistema de educação.

E me faz lembrar de uma pergunta, feita no início do semestre, logo depois da apresentação do plano de ensino. Um aluno, muito comprometido com o curso, queria saber se eu considerava que o método proposto era mais eficaz do que as formas tradicionais de conduzir o processo pedagógico. O temor tinha sentido. O método não era eficaz. E o pior é que eu sabia disso. 

De fato, parece que os alunos estudaram pouco. Ficaram mais ocupados com as outras matérias. Guardaram apenas uma pequena parte do que foi discutido.

Mas sabem o que eu acho? Penso que está tudo bem. Viver é muito perigoso.

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